15 de jun. de 2008

Africa poema SEDE

deixe escorrer esse sangue
que ele rega minha alma

lavra meu sonho

ceifa minha calma


deixe escorrer esse sangue

que ele lava nosso caminho

encobre essa agonia

resseca nosso destino


deixe escorrer esse sangue

que escarnece da minha dor

subjuga minha índole

dilacera esse amor


deixe escorrer esse sangue

que cala essa voz altiva

sacia essa minha sede

justifica essa doutrina


deixe escorrer esse sangue

que sorveu minha desgraça

ocultou meu nome

matou minha raça


deixe escorrer esse sangue

que enlameia meu tempo

escraviza meu corpo

mercadeja meu medo


deixe escorrer esse sangue

que mutila o meu passado




12 de jun. de 2008

MULHER

Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil...

A rosa é linda, é bela, é graciosa,

Porém a tua graça é mais subtil.

A onda que na praia, sinuosa,

A areia enfeita com encantos mil,

Não tem a graça, a curva luminosa

Das linhas do teu corpo, amor e ardil.

Chamam-te linda, encantadora ou bela;

Da tua graça é pálida aguarela

Todo o nome que o mundo à graça der.

Pergunto a Deus o nome que hei-de dar-te

E Deus responde em mim, por toda a parte:

Não chames bela — chama-lhe Mulher!


Rui de Noronha (Maputo: 1909-1942)

28 de mai. de 2008

A CASA



A pedra, o pau, o barro,
Os alicerces
Da casa prometida
Sabida
Como certa.


A pedra dura
Madeira que se dobra
O barro que se molda
Coragem que perfura
A timidez que sobra
Paciência que se amolda.



Um bocado de sonho em cada mão,
Um resto de azul
No resto da manhã,
E amanhã,
De manhã cedo,
Sem medo,
A casa que te ofereço
Cercada de amizade.

União dos Escritores Angolanos / Aires de Almeida Santos

25 de mai. de 2008

O MUNDO COMEMORA O DIA DE ÁFRICA

O continente africano celebra hoje o seu DIA. O 25 de Maio assinala o dia em que foi instituída a Organização de Unidade Africana, hoje União Africana. Este dia é o símbolo do combate que o continente africano travou para a sua independência e emancipação.
O 25 de Maio representa, também, um profundo significado da memória colectiva dos povos do continente e a demonstração do objectivo comum de unidade e solidariedade dos africanos na luta para o desenvolvimento económico continental.

22 de mai. de 2008

DIA DA ÁFRICA - 25 DE MAIO

Todos os anos, o Dia da África constitui a ocasião de medir os progressos realizados na África, avaliar as suas dificuldades e refletir sobre as enormes potencialidades do continente.A África está passando por enormes alterações políticas. Embora persistam os conflitos destruidores, o seu número diminuiu e muitos países adotaram sistemas de governo pacíficos e democráticos. No Burundi, a conclusão pacífica e democrática do processo de transição constituiu um marco para o país e, esperamos, para o futuro de toda a região dos Grandes Lagos. Na República Democrática do Congo, uma nova constituição e uma nova lei eleitoral assentam a base para eleições democráticas, enquanto a Guiné-Bissau assistiu ao restabelecimento da ordem constitucional. E na Libéria, um escrutínio histórico levou ao poder a primeira mulher a ser eleita Presidente de um Estado africano.Juntamente com perspectivas econômicas um pouco melhores, o continente se beneficiou de fluxos mais elevados de ajuda pública para o desenvolvimento e de uma - muito necessária - redução da dívida. Os países desenvolvidos, que formam o Grupo dos Oito, comprometeram-se a duplicar, aumentando-a para 25 biilhões de dólares, a ajuda à África, até 2015, enquanto 18 dos países mais endividados viram anulada a quase totalidade da sua dívida externa.As Nações Unidas continuarão a ajudar o povo africano a dar continuidade a estes progressos. A nova Comissão de Consolidação da paz, o Fundo para a Democracia e o Conselho de Direitos Humanos aumentaram a capacidade de resposta das Nações Unidas ao programa para África, tal como foi delineado pela Nova Parceria para o Desenvolvimento da África e União Africana. As Nações Unidas e a União Africana já estão a colaborar no reforço da capacidade de manutenção de paz na África e na promoção de um desenvolvimento equilibrado.Apesar do otimismo, subsistem grandes desafios. A violência que continua no Darfur – não obstante o recente acordo de paz – ameaça milhões de vidas. A situação entre a Etiópia e a Eritreia continua a ser uma fonte de viva preocupação, enquanto o conflito no Norte do Uganda prolonga uma das piores tragédias humanitárias do mundo. Ao mesmo tempo, a seca assola o Corno de África e partes da África austral, e o HIV/AIDS (VIH/SIDA) continua a ter um efeito terrível no futuro do continente africano.Neste Dia da África, renovemos o nosso compromisso de fazer tudo o que pudermos para ajudar o povo africano a enfrentar estes problemas. Trabalhando em conjunto, poderemos concretizar o seu sonho de um continente pacífico, próspero e democrático.




Fonte: Centro Regional de Informação da ONU em Bruxelas - RUNIC

21 de mai. de 2008

Arte Africana

A arte africana é um conjunto de manifestações artísticas produzidas pelos povos da África subsaariana ao longo da história.
O continente africano acolhe uma grande variedade de culturas, caracterizadas cada uma delas por um idioma próprio, tradições e formas artísticas características. O deserto do Saara atuou e continua atuando como uma barreira natural entre o norte da África e o resto do continente. Os registros históricos e artísticos demonstram indícios que confirmam uma série de influências entre as duas zonas. Estas trocas culturais foram facilitadas pelas rotas de comércio que atravessam a África desde a antiguidade.
Podemos identificar atualmente, na região sul do Saara, características da arte islâmica, assim como formas arquitetônicas de influência norte-africana. Pesquisas arqueológicas demonstram uma forte influência cultural e artística do
Egito Antigo nas civilizações africanas do sul do Saara.
A arte africana é um reflexo fiel das ricas histórias,
mitos, crenças e filosofia dos habitantes deste enorme continente. A riqueza desta arte tem fornecido matéria-prima e inspiração para vários movimentos artísticos contemporâneos da América e da Europa. Artistas do século XX admiraram a importância da abstração e do naturalismo na arte africana.
A história da arte africana remonta o período
pré-histórico. As formas artísticas mais antigas são as pinturas e gravações em pedra de Tassili e Ennedi, na região do Saara (6000 AC ao século I da nossa era).
Igbo-Ukwu: arte africana em bronze
Outros exemplos da arte primitiva africana são as esculturas modeladas em argila dos artistas da cultura Nok (norte da Nigéria), feitas entre 500 AC e 200 DC. Destacam-se também os trabalhos decorativos de bronze de Igbo-Ukwu (séculos IX e X) e as magníficas esculturas em bronze e terracota de Ifé (do século XII al XV). Estas últimas mostram a habilidade técnica e estão representadas de forma tão naturalista que, até pouco tempo atrás, acreditava-se ter inspirações na arte da
Grécia Antiga.
Os povos africanos faziam seus objetos de arte utilizando diversos elementos da natureza. Faziam esculturas de
marfim, máscaras entalhadas em madeira e ornamentos em ouro e bronze. Os temas retratados nas obras de arte remetem ao cotidiano, a religião e aos aspectos naturais da região. Desta forma, esculpiam e pintavam mitos, animais da floresta, cenas das tradições, personagens do cotidiano etc.
A arte africana chegou ao Brasil através dos escravos, que foram trazidos para cá pelos portugueses durante os períodos colonial e imperial. Em muitos casos, os elementos artísticos africanos fundiram-se com os indígenas e portugueses, para gerar novos componentes artísticos de uma magnifíca arte afro-brasileira.

Acessar Artes e Literatura


20 de mai. de 2008

ILHA DE MOÇAMBIQUE



Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.

A voz cristalizada,
o segredo da rocha rumo ao pó.

E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.

A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.
O poeta quer escrever
a voz na pedra.

Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.

Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.
Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.


(Mia Couto, idades, cidades, divindades, Maputo, Ndjira, 2008)